Ouço movimentos, barulhos de sirene, portas abrindo-fechando.
Meu corpo é levado por mãos fortes e agora sinto um gelado em minhas costas, aliás pelo corpo todo.
Sístole, diástole - tum, tum...
- Passe o marcador Jorge. Está vendo essa região? É aqui que fazemos a intersecção.
Não sinto meu corpo. De repente me deu vontade de gritar, mas não consigo.
Solidão...
- Primeiro tiramos os órgãos inteiros e colocamos nessas tigelas.
- O senhor não precisa do dreno?
- Não Jorge, já não é mais necessário, do jeito que encontramos...
Por que será que não consigo reagir?
Não abro os olhos, mas pensando bem, prefiro ficar assim!
- Doutor, senti o braço se mexendo!
- Ah, são os movimentos involuntários dos músculos. Fica assim nas primeiras horas. Quando começarmos a serrar não se assuste, pode abrir os olhos!
Frio...
Muito frio...
- Nossa, doutor, tão novinho, quantos anos?
- 25. Mundo cruel!
Estou começando a sentir calafrios, uma força me puxando... Não estou sentindo mais nada.
- Jorge, vou deixá-lo agora, já sabe o que fazer não é?
- Sim, costurar tudo, colocar na gaveta e colocar a ficha de identificação.
- Isso, e não esqueça de limpar tudo.
- Ok!
Agora acho que posso partir, não há mais nada que possa fazer aqui!
- Ah, Jorge, e ao sair, apague a luz!
4 comentários:
precisamos de divulgação!!!
sou muito existente ainda. e você, fique do lado de dentro..
uau. um texto impressionante sem dúvida!
bjinho* boa semana
Ah, mas vc não é de modo algum uma "não-presença".
Você é uma grande amiga.
E a distância é apenas um detalhe pentelho.
Você está sempre presente.
Beijos e boa semana.
P.S.: depois volto pra ler seu texto, estou no trampo.
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